Ser
Eu sou um ser humano, eu sou um ser vivo. Ainda assim, sinto a minha vida a esvair-se nos meandros da tua dor.
Eu sou ser sentido. Eu sou um ser livre. Mas permaneço estático e amorfo, congelado pelo sofrimento, exausto pela tua insustentável existência.
Perco-me, todos os dias, um pouco mais letárgico, um pouco mais dorido, encurralado no labirinto frio da ausência de amor.
Vislumbro a saída, conheço a escapatória. Falta de coragem ou ousadia minha, mas tenho um despreocupado, contudo, insuportável vazio de razão e emoção na minha consciência.
Quero viver. Voltar a brilhar. Ouvir-me a rir e a cantar de inconsciente alegria, embora teime em mergulhar nas profundezas do teu silêncio, à espera só mais um pouco, de uma luz, de um arrepio que me devolva a minha existência plena e imensa do teu incomensurável ser que me esmaga a alma.
Eu vou sobreviver, eu vou adormecer, entorpecido e expectando a malograda e doce vontade de te amar.
Eu vou agarrar-me a ti, eu vou respirar levemente, docemente, sem ruído, sem movimento, muito pequeno, sem sentimentos.
Pois eu tenho medo da cintilante e arrasadora libertação que mais me assusta
que o cárcere da nossa relação.